Felinos Domésticos podem contrair e transmitir a COVID-19?

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Felinos Domésticos podem contrair e transmitir a COVID-19?

Neste artigo, a coordenadora da Pós-graduação em Análises Clínicas Veterinária do IPESSP, Vilma Pereira Costa, comenta a suspeita de um caso de felino com sintomas e teste PCR positivo para a COVID-19 e da possibilidade destes animais domésticos contrair e transmitir a doença.

 

Em 18 de fevereiro de 2021, dois proprietários gaúchos levaram para atendimento veterinário um animal felino, fêmea, com dois anos de idade, domiciliado e sem acesso à rua.

De acordo com o laudo da notificação realizada pela Secretaria Estadual de Saúde, da Divisão do Meio Ambiente, eles haviam recebido diagnóstico positivo para SARS-CoV-2, nosso conhecido COVID-19, há duas semanas antes. Os três felinos da casa não foram isolados, porém, os outros dois felinos da casa não apresentaram sintomas.

No exame clínico, o animal apresentava quadro de dispneia, rouquidão ao vocalizar, tosse, hiporexia e leve perda de peso. Não foram apresentadas alterações de hematócrito, leucrograma, nas funções renais ou hepáticas.

Já o exame radiológico revelou quadro inflamatório pulmonar compatível a patologias de caráter infeccioso. Foi coletada uma amostra por swab de naso orofaringe, suspeitando do nexo temporal e encaminhada para diagnóstico por rtqPCR que resultou em: “Diagnóstico molecular positivo para a presença de RNA viral de SARS-CoV2”.

Após sete dias do atendimento veterinário animal, o quadro da evolução clínica do animal teve piora, a ponto de necessitar apoio respiratório. Depois de quatro dias de internação, o felino apresentou melhora e foi liberado para seguir tratamento sintomático em casa.

Este caso relatado pelas autoridades traz um questionamento:

Felinos contaminados podem efetivamente se contagiar pelo Covid-19 e transmitir para outras pessoas ou felinos? Quais os cuidados que devem ser tomados para evitar o risco?

Conforme os dados do laudo divulgado pela Secretaria de Estado, identifiquei algumas falhas ou omissões no processo. Por isso, considero ainda é prematura a constatação que o animal se contaminou com a Covid-19.

Uma do fato de não terem sido realizados diagnósticos diferenciais para outros agentes que também causam os mesmos sinais em felinos, evoluindo para óbito, como o próprio Coronavírus Felino, que causa a morte de gatos, há vários anos, no mundo todo.

O método de PCR (Reação em Cadeia de Polimerase) utilizado no diagnóstico, identifica por meio fragmentos de DNA, o Coronavírus felino, popularmente conhecido como causador da PIF (Peritonite Infecciosa Felina). Ou seja, o teste poderia positivar para esta doença também para PCR, dependendo do fragmento utilizado para realização do exame.

Desde março de 2020, inúmeros estudos estão sendo realizados na tentativa de comprovar se existe a possibilidade de animais domésticos transmitirem a doença para seres humanos.

Porém, nesse caso, proprietários muito doentes e três felinos juntos, os riscos eram enormes mesmo. O receptor eca2 dos felinos são 100% homólogo ao dos humanos e esse fato possibilidade a entrada do vírus nas células felinas.

Ainda assim, sem outros exames complementares, é prematuro concluir que felinos podem transmitir ou serem alvos do vírus, podendo gerar pânico e abandono de animais. Na verdade, os animais domésticos devem ser protegidos, mantidos isolados do convívio com tutores positivos.

A possibilidade de transmissão da covid-19 para animais domésticos é possível, mas até agora nenhuma comprovação científica de que tenha ocorrido de fato. De forma, geral, os animais domésticos são incapazes de transmitir a doença para seres humanos.

Existem vários estudos em andamento, porém, não há até o momento nenhuma comprovação científica de que animais domésticos possam transmitir covid-19 aos humanos.

A novidade é que o governo russo divulgou o lançamento de uma vacina para proteger cães, gatos, raposas e visons, para que os humanos não transmitam o vírus para estes animais.

 

Dra. Vilma Pereira da Costa – Médica Veterinária, Bióloga, é coordenadora da Pós-graduação em Análises Clínicas Veterinária do IPESSP. É mestre em Bem Estar Animal, especialista em Dermatologia Veterinária e Terapia Celular com células tronco.  CRNV:33926

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